segunda-feira, 30 de abril de 2012

Publicação de texto no gênero textual notícia dirigida às classes A e B, tarefa solicitada pelo curso já comentado neste blog


Uma manhã inusitada

               Na manhã de ontem, o empresário José Roberto da Silva (56), como de costume, acordou às 07h00m. Levantou-se, fez a higiene e preparava-se para o café e para a habitual leitura de jornal. Suas pretensões foram interrompidas pelo toque da campainha. Naquele dia, por uma eventualidade, a empregada não fora atender a porta. Ela estava no andar de cima do apartamento duplex, realizando suas tarefas. Silva, então, dirigiu-se à porta. Observou pelo olho mágico que não havia ninguém do outro lado. Em uma atitude inexplicável e imprudente, abriu a porta. Para sua surpresa, avistou um homem caído na entrada de seu apartamento. Silva desesperou-se. Olhou para todos os lados e não viu ninguém. Tomando outra atitude imprudente, tocou no homem e percebeu que ele não mais apresentava os sinais vitais. Apressadamente, dirigiu-se ao telefone e acionou a polícia. Em instantes, os policiais chegaram a sua residência. Procuraram nas roupas do desconhecido e não encontraram nenhum documento. Fizeram averiguações junto aos funcionários do prédio e ninguém soube dizer quem era o rapaz e todos relataram que não perceberam sua entrada no local. A polícia acionou o IML para a retirada do corpo e para a averiguação da causa mortis Todos os moradores foram intimados a depor no 59º DP, em data ainda ser definida. O caso, até então, tem se configurado como um grande mistério.

sexta-feira, 27 de abril de 2012


 

No Módulo 3 do curso, cada um do grupo deveria criar um texto pertencente ao gênero notícia, através  de uma sequência pré-determinada de acontecimentos. Esta notícia deveria ser criada para um jornal voltado para as classes A e B.

Notícia de Lilian:
Morador de prédio em Perdizes leva susto ao abrir porta do apartamento

Na manhã do último dia 25, um morador do condomínio Alpes, situado à rua Avanhandava, bairro de Perdizes, zona oeste de São Paulo, levou um susto quando abriu a porta do seu apartamento. Luiz Fernando de Queiroz Duarte e Silva, 29, advogado, se preparava para ir para o seu escritório por volta das 7h00 da manhã, quando ouviu a campainha tocar. Após algum tempo, dirigiu-se até a porta e ao abrir, deparou-se com um cadáver caído na soleira. “Fiquei apavorado”, relatou o advogado. “Aproximei do homem e verifiquei que ele tinha o corpo rígido e frio. Imediatamente, corri até o telefone e liguei para a central da polícia”, relembra Fernando.

Somente depois da chegada da polícia é que foi possível constatar que o cadáver tratava-se de  Paulo Henrique Sobreira, 44, técnico em eletricidade. Segundo a empresa onde Paulo trabalhava, o funcionário iniciara o seu trabalho naquele dia e, supostamente, errou o número do apartamento onde faria o serviço. Segundo o laudo médico, Paulo teve um ataque cardíaco fulminante. Através do relatório da empresa Moreira & Associados, onde Paulo trabalhava, verificou-se que o funcionário foi chamado por uma moradora do prédio, que é vizinha do apartamento do advogado. “Provavelmente, ele errou o número do apartamento e tocou a campainha de Fernando”, afirmou o gerente da empresa.

Perplexo com o ocorrido, o advogado ressaltou que é preciso ficar atento ao nosso coração, cuidando dele para que não nos surpreenda ou surpreenda o coração do outro.

 (L.C.F.A– 27/04/2012)


terça-feira, 17 de abril de 2012


Duas boas experiências

A leitura, conforme nos disse Newton Mesquita, que atua no campo da pintura, "toca na sua essência". Não me lembro que idade tinha quando li Meu pé de laranja-lima, de José Mauro de Vasconcellos. Lembro, porém, do quanto me emocionou o episódio no qual o única pessoa amiga do narrador-personagem morreu. A tristeza do menino me contagiou. Também chorei. Emociono-me diante da solidão dos seres, emociono-me diante da separação provocada pela morte. Marilena Chauí nos diz que "descobrimos nossos próprios pensamentos e nossa própria fala graças ao pensamento e à fala do outro." As minhas fragilidades não foram descobertas pela leitura do referido livro, mas, com certeza, houve forte identificação de minha psiquê com o episódio comentado.

A escrita, por sua vez, também tem grande importância. Rubem Alves, educador, escritor e teólogo, relata que escreve esperando ser devorado pelos seus leitores. No Ensino Médio, passei por uma experiência que, de certa forma, tem relação com que diz Alves. Uma produção de texto que fiz sobre o tema a mulher foi elogiada pela minha professora de português Maria José e lida para toda a classe. Foi um grande presente que recebi. Era meu aniversário...


Parte da minha história

 
Nascida em Itapecerica da Serra, sou a caçula de uma família de 7 irmãos. Meus pais sempre foram muito simples, mas extremamente dedicados e carinhosos. Minha mãe, uma mulher sábia e minha primeira mestra!!Morávamos em sítio e tínhamos alguns livros em casa, os quais minha mãe guardava como relíquia.  Um deles, jamais esquecerei, O Pavão Misterioso. Foi deste livro que minha mãe retirou o nome da minha irmã mais velha: Creusa. Ouvia esta história sempre e ficava encantada. Meu avô paterno, também levava revistinhas Almanaque Fontoura que eram distribuídas nas farmácias e eu ficava ouvindo minha mãe e minhas irmãs contarem as histórias do Jeca Tatu, anedotas, curiosidades... Hummm!! Quanta saudade... Eu ainda não estava na escola, tinha uns 5 anos de idade. Meus irmãos adoravam me contar histórias, principalmente as partes mais assustadoras dos contos de fadas (que maldade!).
Depois entrei para a escolinha rural e o contato com uma diversidade de livros, os quais eram apresentados pelo Professor Samuel e pela Professora Amábile (que mestres dedicados!) me fizeram ficar ainda mais encantada por este universo fantástico que é a leitura. Daí em diante , não parei mais... até transformar na Professora Lilian de Língua Portuguesa e com a tarefa de também apresentar aos meus alunos a magia e encantamento que é o universo da leitura. Hoje, continuo apaixonada por leitura. Atuo como supervisora de ensino e me empenho para persuadir os professores a envolver seus alunos nesta magia. (L.C.F.A - abril de 2012)


Uma vida de descobertas

A leitura é essencial hoje na minha vida. Não tenho muitas lembranças de como foi este processo. Na prontidão recordo-me de ter dado um caderno para a tia escrever as músicas que cantávamos para eu poder cantar em casa. Como? Não sei... pois não sabia ler ainda. Meus pais, com pouca escolaridade, nunca me incentivaram a ler, infelizmente, mas são os grandes responsáveis pela minha formação pessoal.
Na escola, já na 6ª série, lembro-me que a professora Ana Maria levava toda a sua série vaga-lume para escolhermos e lermos em casa. A partir daí surgiu a paixão pela literatura. E tudo mudou.
No EM, recordo-me das primeiras leituras obrigatórias dos clássicos da literatura, nunca antes ouvido. “Vidas Secas” foi o primeiro livro. E a cada bimestre, os seminários que aconteciam me instigavam a ir à biblioteca, uma linda e vasta biblioteca... Lia direto.
Quando comecei a dar aula, voltei a ler os da série vaga-lume e muitos outros paradidáticos, e até hoje, pois, como empresto aos alunos, preciso conhecê-los.
A leitura é para mim uma viagem a mundos (des)conhecidos. A cada livro que leio, aumenta mais o meu desejo de ler, conhecer, viajar... (GBS,2012)



A leitura engrandece a alma." (Voltaire)
A leitura do mundo precede a leitura da palavra." (Paulo Freire)
Sábias palavras de Rubem Alves sobre a Leitura

 O prazer da leitura

Alfabetizar é ensinar a ler. A palavra alfabetizar vem de “alfabeto“. “Alfabeto“ é o conjunto das letras de uma língua, colocadas numa certa ordem. É a mesma coisa que “abecedário“. A palavra “alfabeto“ é formada com as duas primeiras letras do alfabeto grego: “alfa“ e “beta“. E “abecedário“, com a junção das quatro primeiras letras do nosso alfabeto: “a“, “b“, “c“ e “d“. Assim sendo, pensei a possibilidade engraçada de que “abecedarizar“, palavra inexistente, pudesse ser sinônima de “alfabetizar“...

“Alfabetizar“, palavra aparentemente inocente, contém uma teoria de como se aprende a ler. Aprende-se a ler aprendendo-se as letras do alfabeto. Primeiro as letras. Depois, juntando-se as letras, as sílabas. Depois, juntando-se as sílabas, aparecem as palavras...

E assim era. Lembro-me da criançada repetindo em coro, sob a regência da professora: “be a ba; be e be; be i bi; be o bo; be u bu“... Estou olhando para um cartão postal, miniatura de um dos cartazes que antigamente se usavam como tema de redação: uma menina cacheada, deitada de bruços sobre um divã, queixo apoiado na mão, tendo à sua frente um livro aberto onde se vê “fa“, “fe“, “fi“, “fo“, “fu“... (Centro de Referência do Professor, Centro de Memória, Praça da Liberdade, Belo Horizonte, MG.)

Se é assim que se ensina a ler, ensinando as letras, imagino que o ensino da música deveria se chamar “dorremizar“: aprender o dó, o ré, o mi... Juntam-se as notas e a música aparece! Posso imaginar, então, uma aula de iniciação musical em que os alunos ficassem repetindo as notas, sob a regência da professora, na esperança de que, da repetição das notas, a música aparecesse...

Todo mundo sabe que não é assim que se ensina música. A mãe pega o nenezinho e o embala, cantando uma canção de ninar. E o nenezinho entende a canção. O que o nenezinho ouve é a música, e não cada nota, separadamente! E a evidência da sua compreensão está no fato de que ele se tranquiliza e dorme – mesmo nada sabendo sobre notas! Eu aprendi a gostar de música clássica muito antes de saber as notas: minha mãe as tocava ao piano e elas ficaram gravadas na minha cabeça. Somente depois, já fascinado pela música, fui aprender as notas – porque queria tocar piano. A aprendizagem da música começa como percepção de uma totalidade – e nunca com o conhecimento das partes.

Isso é verdadeiro também sobre aprender a ler. Tudo começa quando a criança fica fascinada com as coisas maravilhosas que moram dentro do livro. Não são as letras, as sílabas e as palavras que fascinam. É a estória. A aprendizagem da leitura começa antes da aprendizagem das letras: quando alguém lê e a criança escuta com prazer. “Erotizada“ – sim, erotizada! – pelas delícias da leitura ouvida, a criança se volta para aqueles sinais misteriosos chamados letras. Deseja decifrá-los, compreendê-los – porque eles são a chave que abre o mundo das delícias que moram no livro! Deseja autonomia: ser capaz de chegar ao prazer do texto sem precisar da mediação da pessoa que o está lendo.

No primeiro momento as delícias do texto se encontram na fala do professor. Usando uma sugestão de Melanie Klein, o professor, no ato de ler para os seus alunos, é o “seio bom“, o mediador que liga o aluno ao prazer do texto. Confesso nunca ter tido prazer algum em aulas de gramática ou de análise sintática. Não foi nelas que aprendi as delícias da literatura. Mas me lembro com alegria das aulas de leitura. Na verdade, não eram aulas. Eram concertos. A professor lia, interpretava o texto, e nós ouvíamos extasiados. Ninguém falava. Antes de ler Monteiro Lobato, eu o ouvi. E o bom era que não havia provas sobre aquelas aulas. Era prazer puro. Existe uma incompatibilidade total entre a experiência prazerosa de leitura – experiência vagabunda! – e a experiência de ler a fim de responder questionários de interpretação e compreensão. Era sempre uma tristeza quando a professora fechava o livro...

Vejo, assim, a cena original: a mãe ou o pai, livro aberto, lendo para o filho... Essa experiência é o aperitivo que ficará para sempre guardado na memória afetiva da criança. Na ausência da mãe ou do pai a criança olhará para o livro com desejo e inveja. Desejo, porque ela quer experimentar as delícias que estão contidas nas palavras. E inveja, porque ela gostaria de ter o saber do pai e da mãe: eles são aqueles que têm a chave que abre as portas daquele mundo maravilhoso! Roland Barthes faz uso de uma linda metáfora poética para descrever o que ele desejava fazer, como professor: maternagem: continuar a fazer aquilo que a mãe faz. É isso mesmo: na escola, o professor deverá continuar o processo de leitura afetuosa. Ele lê: a criança ouve, extasiada! Seduzida, ela pedirá: “Por favor, me ensine! Eu quero poder entrar no livro por conta própria...“

Toda aprendizagem começa com um pedido. Se não houver o pedido, a aprendizagem não acontecerá. Há aquele velho ditado: “É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencer a égua a beber“. Traduzido pela Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo. Quero é fome“. Metáfora para o professor: cozinheiro, Babette, que serve o aperitivo para que a criança tenha fome e deseje comer o texto...

Onde se encontra o prazer do texto? Onde se encontra o seu poder de seduzir? Tive a resposta para essa questão acidentalmente, sem que a tivesse procurado. Ele me disse que havia lido um lindo poema de Fernando Pessoa, e citou a primeira frase. Fiquei feliz porque eu também amava aquele poema. Aí ele começou a lê-lo. Estremeci. O poema – aquele poema que eu amava – estava horrível na sua leitura. As palavras que ele lia eram as palavras certas. Mas alguma coisa estava errada! A música estava errada! Todo texto tem dois elementos: as palavras, com o seu significado. E a música... Percebi, então, que todo texto literário se assemelha à música. Uma sonata de Mozart, por exemplo. A sua “letra“ está gravada no papel: as notas. Mas assim, escrita no papel, a sonata não existe como experiência estética. Está morta. É preciso que um intérprete dê vida às notas mortas. Martha Argerich, pianista suprema (sua interpretação do concerto n. 3 de Rachmaninoff me convenceu da superioridade das mulheres...) as toca: seus dedos deslizam leves, rápidos, vigorosos, vagarosos, suaves, nenhum deslize, nenhum tropeção: estamos possuídos pela beleza. A mesma partitura, as mesmas notas, nas mãos de um pianeiro: o toque é duro, sem leveza, tropeções, hesitações, esbarros, erros: é o horror, o desejo que o fim chegue logo.

Todo texto literário é uma partitura musical. As palavras são as notas. Se aquele que lê é um artista, se ele domina a técnica, se ele surfa sobre as palavras, se ele está possuído pelo texto – a beleza acontece. E o texto se apossa do corpo de quem ouve. Mas se aquele que lê não domina a técnica, se ele luta com as palavras, se ele não desliza sobre elas – a leitura não produz prazer: queremos que ela termine logo. Assim, quem ensina a ler, isto é, aquele que lê para que seus alunos tenham prazer no texto, tem de ser um artista. Só deveria ler aquele que está possuído pelo texto que lê. Por isso eu acho que deveria ser estabelecida em nossas escolas a prática de “concertos de leitura“. Se há concertos de música erudita, jazz e MPB – por que não concertos de leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza é impossível esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles. Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos - gramática, usos da partícula “se“, dígrafos, encontros consonantais, análise sintática –que não houve tempo para serem iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário: foi-lhes ensinada a anatomia morta do texto e não a sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler elas já são sensíveis à beleza. E a missão do professor? Mestre do kama-sutra da leitura...